
“É aquela água que estou a captar, a tratar, a bombar para o reservatório e a mandar para a casa das pessoas e que se perde”, diz o presidente da Associação das Empresas Portuguesas para o Setor do Ambiente (AEPSA), Eduardo Marques.
Em entrevista, o responsável considera que é necessário aumentar as tarifas da água, um setor habituado a subsídios. Ele destaca que, em termos gerais, o valor da água é baixo e aponta para as ineficiências do setor, sobretudo as perdas de água de consumo, que chegam a 27%.
Eduardo Marques apresenta outros números: as concessões privadas, que atendem 20% da população, apresentam uma média muito inferior de perdas, cerca de 13%.
Marques calcula que, se todo o país tivesse a mesma eficiência que o setor privado, 90 milhões de metros cúbicos de água seriam poupados — o equivalente a um reservatório com uma base igual a um campo de futebol e nove quilômetros de altura.
As más condições das infraestruturas são citadas como um motivo para as perdas, mas o responsável observa que o país está reformando apenas um oitavo do que deveria.
“Na privada não, que somos obrigados a reabilitar de acordo com os contactos, mas estamos por todo o país a transitar para gerações futuras uma grande responsabilidade de investimento”.
Eduardo Marques enfatiza que a reabilitação dos ativos tem de ocorrer “nos períodos corretos” e admite que é um tipo de investimento que “não dá votos” porque envolve tubos escondidos, levando a uma tendência de adiamento desse tipo de investimento.
Com cada vez menos chuva prevista no futuro, o responsável afirma que, em matéria de água, “o país tem a obrigação de ser mais eficiente”.
Essa eficiência, segundo ele, não depende apenas de dessalinizadoras ou mais barragens, mas essencialmente de reduzir perdas.
“O que podemos poupar nas redes públicas é superior à capacidade da dessalinizadora, e não são precisos grandes investimentos. Há uma ideia errada de que só se consegue poupar nas perdas de água com reposição de condutas, mas é errado. Com gestão eficiente consegue-se reduzir as perdas a curto prazo”, diz.
Ele critica os grandes investimentos para a reparação de condutas na proposta do Governo para o setor, “Água que Une”, mas admite a necessidade de muitos fundos para investimentos que não se podem adiar, pois “sem água não se vive”.
“Se não tiver dinheiro, não sou eficiente, estou a gastar mais água, estou a prejudicar o ambiente, temos de conjugar as duas coisas”, avisa o presidente da AEPSA, uma associação de empresas do setor do ambiente, da água à gestão de resíduos.
A AEPSA tem 45 associados, representando 20 mil trabalhadores e uma faturação anual de 1,2 milhões de euros.
Questionado, o responsável expressou desacordo com o plano de eficiência hídrica do Algarve apresentado pelo Governo, que insiste na reabilitação de condutas e menos na boa gestão, além de insistir no aproveitamento das águas das ETAR, quando nem sempre é viável.
O essencial, segundo ele, é acabar com as tarifas politizadas, aumentar a concorrência no setor e implementar sistemas eficientes, seja no abastecimento público urbano ou na agricultura.