
“As colmeias ardiam completamente todas se eu não estivesse lá e amigos que me ajudaram”, disse Mário Brandão, responsável pela Casa das Chãs com cerca de 150 colmeias em Santa Eulália e Tropeço, duas das áreas mais afetadas pelo incêndio.
Este apicultor, conhecido por seu mel premiado em nível nacional, queixa-se da falta de apoio por parte dos bombeiros, destacando que estes “não têm preocupação com as abelhas”.
“Protegem as casas realmente, fazem um bom trabalho, mas quando peço aos bombeiros – que pedi a vários – para me tentarem ir lá botar um bocado de água nas abelhas todos se recusaram, porque dizem que não têm ordens para gastar água nas abelhas”, afirmou.
Mário Brandão ainda não fez contas aos prejuízos que teve com este incêndio, informando que, apesar de não ter ardido nenhuma colmeia, morreram muitas abelhas.
“Sim, as que andavam à volta e mesmo com o calor que se fez sentir ali à volta das colmeias, com certeza que morreu muita abelha. Agora vou ver, tenho que abrir [as colmeias] uma a uma para ver realmente o que é que se passou, como é que elas estão”, referiu.
Menos sorte teve João Martins, da Apisfreita, que tentou com a ajuda de populares defender os seus apiários, mas não conseguiu salvar 15 colmeias, ao contrário do que ocorreu há um ano, quando as chamas também ameaçaram a serra de Arouca.
“No ano passado, o lume passou em alguns apiários, mas não ardeu colmeias. Para além de ter matado abelhas, não chegámos a perder bens materiais. Este ano foi o contrário. Este ano arderam colmeias, ardeu mel, ardeu a produção, ardeu tudo o que estava”, disse.
João Martins, cuja principal atividade é a apicultura, estima que teve um prejuízo superior a 2.500 euros apenas em bens materiais, sem contar a perda das florações nos próximos anos e o que terá de gastar em alimentação artificial, devido à falta de pasto para as abelhas.
“Todos estes incêndios acabam por ser muito prejudiciais para toda a apicultura. Não só a quem é afetado diretamente, mas até quem fica indiretamente afetado, porque as florações que nós aqui temos, a urze e o eucalipto, são florações que não vêm em dois anos. Necessitam de quatro, cinco, seis anos para atingir o pico em que estavam. Ou seja, nós sabemos que esses próximos seis anos são anos de dificuldade para a apicultura aqui no concelho”, assinalou.
Apesar das dificuldades, João Martins diz que não pensa em desistir desta atividade, embora não possa afirmar se conseguirá continuar a viver da apicultura, que surgiu em sua vida como uma tradição familiar, herdada do avô e do pai.
“Talvez, a longo prazo, temos que repensar bem se justifica ter tanta quantidade como nós temos, ou temos que arranjar o trabalho principal e passar à apicultura como ‘hobby'”, disse este apicultor que também se queixa da concorrência desleal do mel que vem da China, sem qualquer controle.
O incêndio, ocorrido entre 28 de julho e sexta-feira em Arouca, e que se espalhou aos concelhos de Castelo de Paiva e de Cinfães, foi combatido por mais de 700 operacionais e vários meios aéreos, tendo consumido uma área de cerca de 4.000 hectares de floresta.
O fogo causou danos em uma casa devoluta, alguns anexos agrícolas e pequenos danos em duas habitações, destruindo parte dos Passadiços do Paiva, uma das principais fontes de receita para a economia local de Arouca.
De acordo com informações da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, às 13:00 horas, havia 75 operacionais e 29 viaturas em vigilância no local.