
Esta ideia consta do livro ‘António José Seguro, um de nós’, que é hoje apresentado em Lisboa e reúne testemunhos sobre as várias fases da vida do candidato presidencial e declarações do próprio, da autoria do jornalista Rui Gomes, que foi adjunto de Jorge Coelho no Governo e vogal no Conselho Regulador da ERC.
O compromisso de salvação nacional proposto pelo antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, em julho de 2013, é um dos temas que o livro aborda com detalhe, com várias declarações de Seguro e recorrendo ao testemunho de Alberto Martins, que liderou a delegação do PS – composta ainda pelo atual líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, e o ex-secretário de Estado Óscar Gaspar – para essas negociações com PSD e CDS, que terminaram sem acordo.
O então líder do PS afirma que voltaria a repetir “a disponibilidade para um acordo de salvação nacional”, por “mais incompreensão que tenha tido”.
No entanto, é reconhecido um erro que foi o facto de ter estado em silêncio durante as negociações e só ter falado ao país no final, assumindo que, se pudesse voltar atrás, teria feito publicamente um ponto de situação diário.
“Teria evitado a consolidação de narrativas manipuladoras da realidade”, aponta.
Seguro assume que, se estivesse no lugar de Cavaco, não teria dito antes o que faria caso não houvesse acordo.
“Funcionou, consciente ou não, como um incentivo para o Governo não querer chegar a acordo. O Governo queria a remodelação e prosseguir”, lamenta.
É nesta fase do livro que o autor fala de um telefonema do antigo Presidente da República Mário Soares, que “manifestava intranquilidade” com um eventual acordo do PS com o PSD. Seguro afirma ter recusado ser condicionado na sua capacidade de decisão porque não era um “catavento”.
“Soares reagiu mal à resposta, a chamada terminou rapidamente e ao final do dia o secretário-geral do PS avisou os mais próximos que antecipava uma ‘tempestade'”, relata o autor, que considera a partir daqui se montou “um cerco” a Seguro com o agudizar de uma imagem de “alegada proximidade com Passos Coelho” e “não defender o legado de José Sócrates”.
O “momento escolhido” foram as europeia de 2014, segundo o livro, recordando as declarações de António Costa sobre “o poucochinho” e a decisão de Seguro de convocar eleições primárias.
“Mesmo correndo o risco de perder, gostava de deixar um legado: a afirmação de maior democracia interna”, conta Rui Gomes, relatando uma conversa tida então com Seguro, considerando que perder não o terá surpreendido e que um dia antes já tinha o rascunho do discurso da derrota.
O antigo líder do PS tomou a decisão quanto à candidatura a Belém durante a campanha para as legislativas de 18 de maio, refere o autor.
Na década que esteve afastado da política após a demissão da liderança socialista, foi recusando fazer comentários sobre o PS – “não vou fazer aos outros o que me fizeram” – e “a surpresa” surgiu depois do verão de 2024, num almoço com amigos, nos quais estava também Rui Gomes.
“Tenho sido abordado por várias pessoas para me candidatar a Presidente… a minha vontade, como sabem, é ter um espaço televisivo, mas já agora… qual é a vossa opinião”, relata.
Seguiu-se o processo de “várias semanas” para acertar com a CNN o seu espaço de comentário, o que “coincide com uma declaração” do ex-líder do PS Pedro Nuno Santos, outubro de 2024, quando falou de Seguro entre os “bons nomes” para ser candidato presidencial.
“O facto de o líder do PS ter citado António José Seguro – há 10 anos afastado da vida política – marcou a entrevista, libertou fantasmas e despertou o incentivo de mais pessoas para Seguro ser candidato a Presidente da República”, é sugerido no livro.
Sobre si, Seguro afirma: “não esqueço, mas não sou vingativo. Nem procuro o futuro no avesso do passado”.
O livro começa com um texto de François Hollande, antigo presidente da República francês, a recordar alguns encontros que teve com Seguro, um deles durante a crise financeira em Portugal quando o agora candidato a Belém defendia “um caminho alternativo” e uma forma de “honrar os compromissos internacionais sem impor sacrifícios insustentáveis” aos portugueses.