
“Nunca o doutor Armando Vara sugeriu, solicitou, pediu, deu a entender sobre qualquer espécie de compensação monetária ou outra”, disse, na 13.ª sessão do julgamento da Operação Marquês, Rui Horta e Costa.
O antigo administrador do empreendimento de luxo algarvio sublinhou ainda que, quando em 2006 apresentou o negócio ao então gestor da CGD, este não mencionou a necessidade de existir um conforto político para que fosse concedido o empréstimo que acabaria de ser de mais de 200 milhões de euros.
Rui Horta e Costa está pronunciado (acusado após instrução) de um crime de corrupção ativa por ter, alegadamente, pago com um outro ex-administrador de Vale de Lobo, Diogo Gaspar Ferreira, um total de dois milhões de euros a Armando Vara e ao então primeiro-ministro José Sócrates para que o ‘resort’ fosse beneficiado pelo banco público.
No interrogatório iniciado hoje à tarde, Rui Horta e Costa assegurou também só ter estado pessoalmente com o antigo chefe de Governo uma vez, “num jantar de empresários” que “não correu nada bem”, porque José Sócrates “ofendeu dois economistas”.
Para o ex-investidor de Vale de Lobo, que realçou ter sondado quatro bancos para conseguir um financiamento para com outras quatro pessoas comprar Vale de Lobo, a negociação do empréstimo com a CGD, liderada por Diogo Gaspar Ferreira, decorreu com normalidade até o crédito ser aprovado.
“Foi tudo normal, exceto num aspeto: o pedido de sugestão de investimento no capital [de Vale de Lobo] por parte da Caixa”, ressalvou.
Questionado sobre um eventual inflacionamento do plano de negócios, Rui Horta e Costa contrapôs que tal não traria “qualquer vantagem”.
“Não fugíamos de Vale de Lobo com um terreno debaixo do braço”, justificou, atribuindo à crise financeira de então o facto de o empreendimento ter entrado em incumprimento perante a CGD a partir de 2009.
O ex-administrador do ‘resort’ responde ainda por um crime de branqueamento de capitais em coautoria com outros arguidos, incluindo José Sócrates e Armando Vara.
Na sessão de hoje, Rui Horta e Costa disse não conseguir explicar “até hoje” a entrada de 200 mil euros com origem num cidadão holandês numa conta sua confidencial na Suíça, dez dias antes de transferir 100 mil euros para Diogo Gaspar Ferreira a título de empréstimo.
No total, o processo conta com 21 arguidos, que têm, em geral, negado a prática dos 117 crimes económico-financeiros que lhes são imputados.
O julgamento começou em 03 de julho no Tribunal Central Criminal de Lisboa e prossegue na quinta-feira, com a continuação do interrogatório a Rui Horta e Costa, o terceiro arguido a prestar declarações.