Todos os anos, milhares de jovens enfrentam o habitual desafio de deixar suas casas e mudar-se de cidade para ingressar na universidade. A busca por alojamento torna-se um desafio não apenas devido aos elevados preços em várias cidades, mas também pela escassez de ofertas.
Em Lisboa, por exemplo, onde cerca de 50 mil estudantes deslocados estão matriculados, a renda média mensal de um quarto é de 500 euros. Com o ano letivo prestes a começar, o Observatório do Alojamento Estudantil, órgão responsável pelo monitoramento da oferta privada de alojamento, registrou pouco mais de 2.600 vagas disponíveis.
A escassez de oferta leva muitos estudantes a buscar opções de moradia com antecedência, alguns iniciando a procura meses antes de receberem os resultados do concurso nacional de acesso.
É o caso de Alexandre Caldeira, que acaba de concluir o 11.º ano. Ainda faltando um ano para terminar o ensino secundário, o jovem do Algarve já decidiu que deseja estudar no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa.
Aproveitando uma recente viagem a Lisboa, a família começou a procurar alojamento. “Estamos a ver com bastante antecedência, porque a nossa ideia é, em janeiro, fazermos já uma pré-reserva”, relata Nádia Caldeira, mãe de Alexandre, expressando a grande preocupação com a questão do alojamento.
Alexandre não é um caso isolado. O presidente da Federação Académica de Lisboa (FAL) afirma conhecer vários casos de estudantes que iniciam a busca por alojamento muitos meses antes do início das aulas.
Pedro Neto Monteiro, presidente da FAL, é um desses exemplos. “Eu sou um estudante deslocado, sou de Viseu, e comecei a procurar alojamento com cerca de sete ou oito meses de antecedência”, compartilhou o representante estudantil.
Entretanto, Monteiro ressalta a existência de variáveis incertas no acesso ao ensino superior. Mesmo que haja intenção de ingressar em determinada instituição, a colocação pode não se confirmar.
Além disso, nem todas as famílias têm condições financeiras para assumir compromissos com tanta antecedência. Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), alerta que muitas famílias se veem impossibilitadas de arcar com o custo de uma renda estudantil durante o período letivo.
“Se os estudantes bolseiros têm, na maioria dos casos, uma cama disponível (em residência pública) ou um complemento de alojamento, o problema também está nas classes médias que, muitas vezes, são completamente asfixiadas financeiramente para os seus filhos poderem estudar no ensino superior”, explica Francisco Porto Fernandes.
Em Lisboa, os aluguéis de quartos são em média 500 euros mensais, enquanto no Porto o valor é ligeiramente menor, cerca de 400 euros. Ainda assim, a oferta de quartos no Porto permanece reduzida, com apenas 799 vagas disponíveis, conforme levantamento recente do Observatório do Alojamento Estudantil.
Dada a insuficiência de vagas nas residências públicas, residências estudantis privadas poderiam ser uma alternativa de alojamento, mas os preços são ainda mais altos. Em Lisboa, as opções mais acessíveis superam os 550 euros por um quarto partilhado, enquanto estúdios de 30 metros quadrados podem ultrapassar os 1.600 euros.
Até setembro, o governo prevê a conclusão de obras em 19 residências universitárias, oferecendo mais de duas mil novas camas. Além disso, outras 2.270 camas podem ser disponibilizadas mediante protocolos para alojamento estudantil.
Em um recente balanço, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação afirmou que a meta estabelecida pelo governo anterior era alcançar 18 mil vagas para estudantes. Com projetos concluídos e aprovados, já foram contratualizadas 19 mil camas até o momento.