“Foi uma questão transversal. A maior parte das vezes em que são feitos pedidos de esclarecimentos ao BESA, não existe resposta ou existe resposta inconclusiva”, destacou a responsável pela análise da subsidiária angolana na auditoria ao BES realizada em 2014 pela Deloitte, durante seu depoimento no julgamento do caso BESA em Lisboa.
Vera Pita foi questionada pelo Ministério Público sobre um pedido do departamento de ‘compliance’ do BES para que o BESA explicasse quatro transferências ao Sporting, feitas através de uma conta do banco angolano sediada no BES em Lisboa.
Ao pedido, feito sob a lei de prevenção do branqueamento de capitais, “não foi dada resposta”.
A consultora financeira enfatizou que o pedido não implica que “a operação seja irregular”, mas sim que existem fatores de risco aumentados, como o montante das transferências e a natureza esportiva da entidade envolvida.
Conforme a acusação do Ministério Público, o então presidente do BESA, Álvaro Sobrinho, terá ordenado entre 2011 e 2012 a transferência de cerca de 15 milhões de euros para uma conta da Sporting SAD, utilizando fundos emprestados pelo BES para aumentar a liquidez da subsidiária angolana.
O banqueiro angolano, de 62 anos, é um dos cinco réus no processo, que foca principalmente no suposto desvio de fundos entre 2007 e 2012 de financiamentos do BES para o BESA em linhas de crédito do Mercado Monetário Internacional (MMI) e descobertos bancários.
Entre os acusados, estão também o ex-banqueiro Ricardo Salgado, de 81 anos e que sofre de Alzheimer, e seu antigo braço-direito, Amílcar Morais Pires, de 63 anos, o único até o momento a prestar declarações no julgamento.
Os réus enfrentam acusações de abuso de confiança, branqueamento de capitais e fraude, e todos negam as práticas criminosas.
O julgamento, iniciado em 5 de maio no Tribunal Central Criminal de Lisboa, ouviu como primeira testemunha a consultora da Deloitte.
O BES faliu no verão de 2014 e o BESA foi liquidado em outubro do mesmo ano.
